O quadro de esteatose hepática não alcoólica em mulheres após a menopausa está relacionado principalmente às alterações hormonais que acontecem no período, que causam a redistribuição da gordura corporal no corpo feminino
Junho é conhecido como o mês de conscientização sobre esteatose hepática, popularmente conhecida como gordura no fígado. Embora a condição possa afetar indivíduos de ambos os sexos, mulheres após a menopausa são mais propensas a desenvolvê-la.
“Isso tem sido relacionado a uma série de fatores, como idade mais avançada e as alterações hormonais que ocorrem na mulher nessa situação, como a redução dos níveis de estrogênio, que leva a uma modificação da distribuição da gordura corporal, havendo um maior acúmulo de gordura visceral nesse período da pós-menopausa”, explica a hepatologista Cristiane Tovo, membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Além da idade e do período hormonal feminino, outros fatores que contribuem para o desenvolvimento da gordura no fígado são, segundo o Ministério da Saúde:
- Sobrepeso e/ou obesidade;
- Sedentarismo;
- Diabetes;
- Pressão alta;
- Colesterol alto;
- Perda ou ganho de peso muito rápido;
- Uso contínuo de medicamentos como corticoide, estrógeno e entre outros;
- Hábitos ruins, como má alimentação;
- Inflamações crônicas no fígado;
- Gravidez.
“O excesso de peso é atualmente uma das principais causas da Esteatose Hepática Não Alcoólica, sendo responsável por 60% dos casos de gordura no fígado”, reafirma o MS.
Quadros como de síndrome de ovários policísticos, hipotireoidismo, síndrome metabólica, e apneia do sono podem contribuir para o desenvolvimento de gordura no fígado.
Quais são os sintomas de gordura no fígado?
A endocrinologista Marcela Caselato, diretora da área médica da Novo Nordisk no Brasil, pontua que a esteatose hepática, no estágio inicial, não costuma gerar sintomas. Ela é uma doença silenciosa, mas ainda assim perigosa. A ausência de sinais da condição pode dificultar seu diagnóstico precoce.
“À medida que a doença progride para estágios mais avançados, alguns sintomas podem se tornar mais evidentes, como cansaço, fraqueza, fadiga e até mesmo hemorragias”, completa Caselato.
Ainda assim, o grau de gordura no fígado não reflete a gravidade da doença. Em outras palavras, todos os pacientes com esteatose hepática devem ser investigados, uma vez que até os quadros mais leves podem evoluir para condições mais sérias.
De acordo com Caselato, os três graus de gordura hepática são classificados da seguinte forma:
Leve: quando menos de 30% das células hepáticas são afetadas;
Moderado: quando a gordura atinge entre 30% e 60% do órgão;
Grave: quando a gordura excede 60% do fígado.
Como é feito o diagnóstico de gordura no fígado?
Como dito anteriormente, a esteatose hepática pode ser uma condição silenciosa. Isso faz com que, em muitos dos casos, ela seja descoberta por acaso, por meio de exames de sangue pedidos em check-up anuais.
Já a confirmação do quadro é feita por um exame de imagem, sendo o mais comum o ultrassom abdominal. A ressonância magnética e tomografia também evidenciam a gordura do fígado.
“Também tem que ser feita a elastografia hepática para avaliar se existe algum grau de fibrose no fígado, aumentando a chance da doença ter progressão. O exame também pode quantificar a gordura no fígado. Embora essa não seja a principal questão a ser avaliada”, reflete Tovo.
A hepatologista reforça que o objetivo dos exames é verificar possíveis alterações nas enzimas do fígado e se há algum grau de fibrose no órgão, pois são esses fatores que vão determinar um melhor ou pior prognóstico do paciente.
Segundo Caselato, o cálculo FIB-4 também ajuda no diagnóstico da gordura no fígado. É uma conta que usa a idade do paciente e os resultados dos exames de sangue para a estimar a saúde do órgão.
Tratamento da gordura no fígado
A redução da gordura no fígado é possível por uma soma de fatores. Em casos de esteatose hepática alcoólica é necessário suspender completamente o consumo de bebida alcoólica. O mesmo vale para a medicamentosa.
Já gordura no fígado, de origem metabólica, é tratada principalmente com mudanças no estilo de vida e regulando o que pode estar fora do eixo. Por exemplo, em pacientes com sobrepeso e/ou obesidade, é recomendado a perda de, pelo menos, 7% a 10% do peso corporal para que os exames de sangue comecem a apresentar melhora. Além disse, esse novo número na balança precisa ser mantido para evitar o efeito sanfona. Essas mudanças são possíveis a partir de uma boa alimentação e prática regular de exercício físico.
“A atividade física deve ser, pelo menos, três vezes por semana, dando um total de 150 minutos, incluindo exercícios aeróbicos e de força”, detalha Tovo.
A principal forma de alimentação de pacientes com esteatose hepática, segundo a profissional da SBH, deve ser a mediterrânea. Ela é baseado no consumo de alimentos minimamente processados, como grãos integrais, frutas, legumes, verduras, oleaginosas, peixes, frutos do mar, aves e laticínios com baixo teor de gordura.
Esse tipo de dieta não descarta os carboidratos. Ela apenas prioriza que eles sejam integrais, como dito anteriormente.
Vale lembrar que esse tipo de alimentação é mais do que uma dieta, é um estilo de vida. Isso porque, além das boas escolhas referentes aos alimentos, ela está relacionada a praticar exercício físico, moderar o consumo de bebida alcoólica e compartilhar refeições em um contexto social.
Fonte: Revista Marie Claire